terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Contos






Allah, o misericordioso e compassivo

VON FRANZ, Marie-Louise. Os banhos de Bâdgerd. In: A individuação nos contos de fada. São Paulo: Editora Paulus, 1984.

Os banhos de Bâdgerd

Dirlene Neves Pinto
Grace Storni
Melissa Caetano
Mônica Valéria S. de Queiroz Vargas

Quando a serviço da Rainha Husn Banû, Hâtim Tâi assumiu o sétimo encargo para o Rei e para a Rainha... O encargo foi o de ir em busca dos Banhos Bâgderd, o Castelo do Nada. Partiu Hâtim para o deserto, diante das portas da cidade, onde encontrou um velho que o convidou à sua casa e lhe perguntou para onde se dirigia. Hâtim Tâi respondeu que esta indo em busca dos Banhos Bâdgerd.

O velho exclamou, depois de longo silêncio:
- “Jovem, que inimigo te envia em busca dos Banhos Bâdgerd? Ninguém sabe onde encontrá-lo. Ninguém jamais voltou da busca por ele. Na cidade de Qâ´tan há um rei cujo nome é Hârith, que colocou uma fileira de guardas em torno da cidade para todo aquele que ande à procura de Bâdgerd seja levado à sua presença. Ninguém sabe porque ele faz isso; ou se ele mata as pessoas ou as deixa ir...”

Hâtim respondeu-lhe
- “Preciso ir e Deus tem que me proteger pois não pretendo desistir da tarefa.”

O velho abençoou Hâtim, dizendo-lhe:
- “Volta! Esse banho é lugar enfeitiçado e ninguém sabe onde fica, de lá ninguém jamais regressou!”

Entretanto, ante a persistência do jovem herói, o velho ensinou-lhe o caminho:
- “Tome a direita, quando chegar numa montanha em cujo sopé houver muitos ciprestes e para além se estender o deserto, deverá virar à esquerda – o caminho da direita é menos difícil, porém, mais perigoso.”

Hâtim prossegue o caminho e chega a uma aldeia. Nas proximidades há gente reunida numa espécie de festa com muita comida. Ele vai ao encontro dessas pessoas e pergunta-lhes a razão de tanta alegria. Eles responderam que no deserto vivia um poderoso dragão que ao assumir a forma humana, vinha escolher uma das jovens da cidade, essa era a razão do festival. Todos estão ali celebrando esta festa porque são forçados.

E o heróis responde:
- “Então este festival que parece alegre, na verdade é um dia triste para vocês!”

Hâtim fica sabendo através do rei do lugar que o dragão é um djin (Gênio) de natureza muito destrutiva. Ele então pede ao rei ordenar ao povo que se faça exatamente o que ele mandar: quando ele escolher uma das filhas, deveriam dizer ao dragão que ali se encontra um jovem nobre que ordenou que a moça não seja entregue sem sua permissão. E se eu sua fúria, o djin pode destruir o reino inteiro em um ano, o tal jovem pode manda-lo de volta para o deserto em um segundo.

Ao que o djin responde:
- “Tragam aqui o tal moço”.

Quando Hâtim se aproxima, o djin fala:
- “Eu nunca o vi antes. Por que descaminhas este povo, que antes me obedecia?

- “Não pretendo interferir em nada” - Hâtim exclama – “mas no meu país, o noivo tem que passar por algumas cerimônias antes de esposar sua prometida”.

- “Como são tais cerimônias?”, diz o djin.

O herói diz ter trazido consigo um talismã, herança de seus ancestrais, o qual é colocado dentro da água que o noivo deverá beber. Ele coloca o talismã dentro da água, o djin bebe, desconhecendo ser tudo um engodo, já que tal talismã teria a força de retirar-lhe o poder.

Hâtim continua dizendo que a segunda cerimônia consistiria em enfiar o noive num enorme barril sela e do qual ele teria de sair. Se o noive conseguisse tal façanha, teria a noiva. Senão, teria de dar ao desafiante 2000 diamantes para serem entregues à pretendida.

O djin entra no barril acreditando ainda ter poderes, mete-se lá e não consegue mais sair. O povo ateia fogo e depois Hâtim enterra o barril bem fundo no chão. A desgraça chega ao fim e o povo pode festejar...

O rei presenteia Hâtim com ouro e prata, mas ele distribui tudo aos pobres. Passados três dias, o herói põe-se no caminho.

Hâtim escala uma montanha e chega ao imenso deserto. Ali, ele vaga por dias, bebendo água de onde pudesse acha-la, fresca ou estagnada. Chega numa bifurcação e hesita em qual direção tomar. Mas ele lembra do velho e acha que o ancião havia lhe aconselhado seguir pela esquerda.

Depois, no caminho da esquerda, ele lembra que o conselho versava pelo caminho da direita. Pensa e decide retornar, mas percebe-se num emaranhado de arbustos. Sente-se muito infeliz. Entretanto, consegue desvencilhar-se. Mas ainda não é o bastante, vê animais correndo na sua direção, são raposas, chacais e panteras e tenta escapar.

De repente, estanca, e nesse momento crítico, surge o velho:

- “Jovem, deverias dar mais atenção às palavras dos mais velhos e experientes...Agora, empunha teu talismã e vê o poder de Allah!”

Hâtim lança o talismã e o velho desaparece, enquanto a terra se torna amarela, negra, verde e por fim, vermelha. Quando o vermelho surge, os animais ficam furiosos uns com os outros e se estraçalham. O herói se surpreende ao perceber fúria dos animais contra si e não contra ele, recolhe o talismã e retorna ao seu caminho.

Depois de passar por uma floresta de bronze repleta de farpas de metal que ferem seus pés, Hâtim continua até encontrar gigantescos escorpiões. O velho ressurge e o mesmo acontece, ele lança mão do talismã e a terra torna a ficar amarela, negra, verde e vermelha. Quando a cor rubra aparece, os escorpiões começam a se atacar e Hâtim escapa.

No tempo devido, Hâtim chega a Qâ´tan e coloca no bolso 2 rubis, 2 diamantes e 2 pérolas. Dirige-se para o palácio real e declara ser um mercador vindo de Shahabad. Pede para ver o Rei Hârith porque quer entregar-lhe preciosas gemas.

O rei convida o herói para sentar-se junto ao trono e passar com ele uma temporada. O rei chega a convida-lo para ali ficar para sempre, na medida que Hâtim o presenteia com pedras preciosas. Nesse ínterim, o herói sempre sugere que há um pedido que ele terá de fazer. O rei acha que é sua filha que o herói deseja pedir em matrimônio e chega a oferece-la. Mas Hâtim responde:

- “Não, não pretendo desposar sua filha.”
Só depois que o rei se compromete em realizar-lhe qualquer desejo, Hâtim revela seu intento de ver os Banhos Bâdgerd. O rei senta-se e fica em silêncio ante o pedido. Hâtim pergunta:

- “Que tens tu, ó Rei, porque estais tão triste?”

- “Há muitos pensamentos em minha mente, meu jovem” – reponde o rei - “Fiz voto de jamais permitir que alguém vá aos Banhos e ao mesmo tempo me comprometi contigo...estou portanto entre duas promessas. Além disso, ninguém jamais voltou de lá e seria uma pena ver algo acontecer a tão belo e nobre jovem.”

Ao que Hâtim retrucou:

- “Ó Rei, se Allah assim o quiser, hei de regressar com vida e rever-te, portanto, deixa-me ir!”

O rei consente, abraça o jovem e mostra-lhe o caminho. Hâtim segue a estrada, alegremente conversando com os cavaleiros que lhe são concedidos pelo rei. Depois de algum tempo, ele avista um estranho objeto, parece uma cúpula a recobrir o topo de uma alta montanha. Os acompanhantes explicam que aquilo é o portal dos Banhos Bâdgerd, que atingirão em 7 dias.

Dali a 7 dias, eles encontram um enorme exército. Os companheiros contam que Sâman Idrak é o guardião dos Banhos e o exército guarda a entrada e recusa passagem a qualquer pessoa que não possua a permissão do Rei de Qâ´tan. Hâtim mostra tal permissão e é levado a Sâman.

Sâman ameaça-o dizendo-lhe que perderá sua vida se insistir em seguir adiante. Nada demove Hâtim e Sâman conduz o herói até os banhos. Hâtim olhou para o imenso portal que se erguia até as nuvens. Por cima da gigantesca porta, a seguinte inscrição:

Este lugar encantado, construído na época do Rei Gayomardo, perdurará muito tempo
como um sinal, e todo aquele que cair sob seu encantamento jamais dele voltará
a escapar, pois o espanto e horror serão seu fardo. Padecerá de fome e sede.
Certamente, enquanto viver ser-lhe-á permitido comer dos frutos do jardim e ver o que há a ser visto neste lugar, mas muito dificilmente conseguirá dele sair.

Quando leu tal inscrição, Hâtim pensou em voltar porque ali estava revelado o segredo dos banhos e refletiu “por que seguir adiante?”. Estava a ponto de recusar, mas acabou por chegar a conclusão que ainda não descobrira o verdadeiro segredo e disse a si mesmo que era preciso prosseguir. Despediu-se dos companheiros e transpôs o portal. Após aquele passo, estava só, não avistou mais nada, nem porta, nem gente, apenas um deserto sem fim...Naquele momento percebeu o significado dos Banhos Bâdgerd, o Castelo do Nada e compreendeu que, agora que transpusera o portal, estava caminhando para a morte...E pensou que ali haveria de enterrar seu ossos...começou então a andar a esmo.

Depois de muitos dias, avistou um jovem que trazia um espelho – era o barbeiro do Banhos Bâdgerd – que saudou o herói e mostrou-lhe o espelho. Hâtim mirou-se e perguntou onde ficavam os Banhos. O jovem barbeiro então responde:

- “Os banhos Bâdged ficam mais adiante. Sou incumbido de receber os forasteiros e conduzi-los até lá, e assim receber minha propina.”

Caminham juntos até chegarem a uma imensa cúpula que parecia chegar aos céus. O jovem toma a dianteira e diz para Hâtim segui-lo. Ao entrar, Hâtim vira-se para fechar a porta e só encontra uma parede de pedra! O barbeiro o conduz ao banho, aconselhando-o a entrar, enquanto ele vai à procura de um pouco de água quente.

O herói, já no banho, é servido pelo barbeiro, que traz água quente para jorrar por sua cabeça. O jovem o faz por 2 vezes...na terceira, ouve-se um trovão e o local fica em trevas. Hâtim fica na mais completa escuridão e muito confuso. Quando a escuridão desvanece, somem o barbeiro e o banho. Permanece a cúpula, uma abóbada rochosa e o herói está com água até as canelas...Quando ele ainda está tentando entender a mágica, a água sobe-lhe até os joelhos...Procura uma porta e nada encontra....Sem saída, e com água até o queixo, Hâtim pensa que aqueles que não haviam regressado teriam se afogado em tal lugar, e então pensa: “Se o homem se defronta com a morte, só lhe resta voltar os olhos para Allah, todo misericordioso”.

E aí reza:

- “Allah, coloquei toda minha força ao teu serviço e só possuo uma vida; porém, mesmo que tivesse mil vidas, ainda assim haveria de submetê-las a tua vontade. Faça-se pois, a tua vontade!“

A água continua a subir e ele é forçado a nadar. E a água carrega-o para o alto, ao nível da cúpula central. Cansado de nadar, ele tenta se agarrar a ela. No momento em que toca a pedra circular, um trovão irrompe e o herói se vê de pé, num deserto. Neste momento ele pensa: “se escapei da inundação, também escaparei ileso do restante dessa absurda mágica”.

Por 3 dias e 3 noites, caminhou até avistar um alto edifício. Em torno dele, um grande jardim. Quando Hâtim transpõe o portão aberto, o jardim desaparece. Quando tenta retornar, o portão não mais existia. E ele pensa: “ora, ora, que nova tortura é essa? Não terei ainda conseguido sair desse círculo mágico?”

O jardim reaparece e o herói decide percorre-lo, já que preso ali está.Vê árvores repletas de frutas e as mais lindas flores de um maravilhoso colorido. Ele come algumas frutas e uma fome insaciável o acomete, ele chega a comer ½ tonelada delas sem conseguir satisfazer-se...entretanto, consegue recobrar-se e prosseguir. Ele vê estátuas plantadas em torno do edifício, como se fossem ídolos. Enquanto estava ali absorto nos pensamentos, um papagaio o chamou de dentro do castelo, indagando:

- “Por que está aí parado, jovem? Como conseguiu aqui chegar e por que acha que sua vida findou?”

Hâtim olhou para cima e por sobre a entrada do castelo, onde havia uma nova inscrição:

Servo de Deus: provavelmente tu jamais deixarás este lugar com vida. Os Banhos foram encantados por Gayomardo que, tendo saído à caça, certa vez, encontrou um diamante brilhante como o sol e opalescente como a lua... Ele apanhou tal tesouro e mostrou aos cortesãos e eruditos, e todos ficaram maravilhados com a raridade da pedra....Gayomardo
construiu os Banhos Bâdgerd para proteger a pedra e em torno dele usou toda sua magia. Até mesmo o papagaio em sua gaiola está sob encantamento.
Servo de Deus, dentro do castelo, sobre o trono de ouro, verás um arco e flecha. Se pretende escapar, toma-os e mata o papagaio para quebrar o encanto. Se não acertares, porém,
há de virar uma estátua de pedra.

Hâtim assentiu que agora sabia o destino dos que estiveram ali antes dele, viraram estátuas de pedra porque não conseguiram atingir o papagaio encantado. Resignado e decidido, entra no castelo, tomou as armas e atirou no pássaro. Este, entretanto, voou. Hâtim viu suas pernas tornarem-se pedra. O pássaro dele zomba:

- “Segue teu caminho, jovem! Este lugar não é para ti!”

Pelo peso das pernas, Hâtim não consegue se aproximar. Lágrimas vieram a seus olhos e ele pensou que horror seria viver ali naquele mísero estado. E disse a si mesmo: “atira novamente, ao menos para ficar todo petrificado.” Assim o faz e erra mais uma vez, tornando-se pedra até o umbigo
O papagaio voou e disse:

- “Vai-te jovem! Este lugar não é para ti”

Hâtim desespera-se ao tentar alcançar o animal e exclama aos prantos:

- “Que ninguém perca a meta da própria vida, como eu!”

Ainda restava uma flecha e o jovem mirou o pássaro e gritou:

- Deus é grande! Fechou os olhos e atirou.

A flecha atinge o alvo.

Uma nuvem de pó ergue-se. Um trovão ecoa. A terra escurece.

Confuso, Hâtim pensou ter virado estátua. Quando finalmente abriu os olhos:
O jardim, a gaiola, o trono, o arco e flecha. Tudo havia desaparecido.
Diante dele, um enorme e lindo diamante. Hâtim estendeu a mão e pegou a pedra. Seu corpo voltara ao normal e as outras estátuas voltaram à vida. O jovem relatou o acontecido aos outros homens e todos ficaram agradecidos e se ofereceram para servi-lo. Hâtim convidou-os a segui-lo até Qâ´tan.

Depois de dias, encontraram a porta. Do outro lado, Sâman Idrak recebeu-os na sua própria casa e conduziu-os até a estrada de regresso. Chegaram a Qâ´tan e Hâtim foi até a presença do Rei Hârith, contando-lhe o acontecido e mostrando-lhe o diamante. Ele pretendia leva-lo à Rainha Husn Bânu, como prometera. Depois pediu ao Rei que distribuísse dinheiro e cavalos a seus acompanhantes.

Feito isto, Hâtim despediu-se do Rei Hârith e retornou a Schahabad.

O povo da Rainha Husn Bânu, conduziu-o ao palácio quando o herói em Schahabad chegou. A rainha o recebeu, ouviu o seu relato e contemplou o diamante. Após a celebração do casamento da rainha com o Príncipe Munir, Hâtim retornou ao Yemen, sua terra natal, onde mais tarde se tornou herdeiro do trono de seu pai, vivendo feliz todos os dias de sua vida...

FIM

Voltemos à interpretação:

Von Franz afirma que devemos compreender o conto também pelos vários símbolos alquímicos por ele trazidos. O herói é levado avante sem qualquer hesitação. Ele nem discute e faz o que tem de ser feito – unicidade – incomum da personalidade.

O herói também personifica o Self ou o que a alquimia chamaria de o homem uno, a personalidade unificada com toda a sua força.

Hâtim está a serviço da Rainha e tem uma tarefa a cumprir – explorar o desconhecido tenebroso, o Castelo do Nada.

A Rainha deu-lhe a tarefa e a anima faz isso com o homem, cria nele certa inquietude de procura: existe algo não encontrado, um inquieto anseio por alguma espécie de meta ou aventura na vida. A anima estabelece a meta do processo de individuação.

O herói confessa estar buscando acerta o alvo de sua vida, embora não soubesse disso quando iniciou a viagem (busca).

O Banho seria o inconsciente, àquela área da psique que nos é desconhecida. O inconsciente se apresenta como nulidade, o vazio, sem significado.

Segundo Von Franz, o djin teria sua anima possuída. Aqui temos que entender que para a cultura monoteísta islâmica, os antigos ídolos das tribos passam a representar poderes malignos, sem que no entanto o sejam...

Hâtim é um herói a serviço da Rainha e portanto, um homem que estabeleceu por uma meta diferente sua anima e sua função Eros. Naturalmente ele é a pessoa apta a lograr o djin/dragão. E o faz por meio de um amuleto que enfraquece o gênio.

O homem que aprisiona os afetos e impulsos primitivos dentro de barris, garrafas e quaisquer recipientes está racionalizando-os segundo a autora. Enterrando o gênio, Hâtim torna a escapar de um conflito ético por recursos mágicos.

O diamante é a meta de sua vida, caminho para encontrar o Self – a prima matéria (simbologia alquímica).

Os escorpiões representam o simbolismo oposto entre vida e morte.

As 4 cores são os 4 pontos cardeais, e aqui a autora faz alusão ao homem primordial – Adam Kadmon. Os Banhos Bâdgerd foram edificados por Gaymardo, que vem a ser esse primeiro homem cósmico primordial da tradição persa (ele existe em diversas tradições).

Quando a autora toca no barbeiro que vai ao encontro de Hâtim, cita Jung que concluiu que “desde os tempos mais antigos, a raspagem da cabeça esteve relacionada à consagração, à transformação espiritual ou iniciação”. O Barbeiro é aquele que leva o herói até o reino do inconsciente, que o inicia nos seus segredos mágicos e o simbolismo do espelho é bastante pertinente aqui.

Na medida que o herói vai se afogando, o Self vai se aproximando dele. Ele é pressionado em direção à sua verdadeira personalidade.

O Jardim representa segundo Von Franz o aspecto maternal inconsciente, criador de ilusões (como vênus). O inconsciente contém um diamante, a possibilidade de individuação, mas também desorienta as pessoas, caso não tenham o guia certo.

Quando entramos em contato com o self, podemos acertar o alvo – representa o equilíbrio interno entre inteligência (razão) e intuição. Outra analogia: o Conteúdo e a Forma.

Hâtim só consegue atingir o algo graças a oração e não pela mira. É quando ele olha para dentro e atira que acerta, abrindo mão dos propósitos de seu ego.

O papagaio oculta a visão do diamante (pedra filosofal), símbolo do self.

Estátuas – segundo estudos de Jung, é um símbolo do corpo ressuscitado.

O pássaro
Pedra filosofal: “pássaro que voa sem asas, nas trevas da noite e à luz do dia. Do amargor de sua garganta, podemos tomar a cor, que a tudo transforma. Esse amargor é colorante veneno.”
Em outros textos alquímicos, o ácido que transforma o ouro em espírito puro.

Lembrar de fazer a interessante analogia entre amargura e petrificação.

O processo alquímico é segundo a autora, uma representação simbólica do processo de individuação, significa um fortalecimento e solidificação da personalidade individual.

Petrificação – individuação mal sucedida?

É por isso, diz-nos esta nossa história, que Hâtim e todos os que tentaram, antes dele, chegar ao diamante – ao verdadeiro significado daquilo que se acha por trás do mistério do papagaio, petrificaram-se. Porque se você não olha para dentro, não alcançará a meta externa, até porque ela não é externa...

O diamante representaria tal unificação. Ele é um símbolo da totalidade e do self, no qual os impulsos instintivos e animais se unificam com a espiritualidade do homem, voltando a ser um só todo, que estava em possessão de Gayomardo.

Segundo a autora, há um exagero no pólo espiritual que “envenena” a personalidade humana natural: onde as obrigações formais islâmicas estariam acima do esforço interior em direção à redenção. Na versão indiana o pássaro é sábio e não um demônio que esconde o diamante. Sinceramente, não percebi mesmo na versão persa o papagaio como demônio, colegas. Apenas é de uma outra qualidade e está ali para testar a força dos heróis. É parte da pedra filosofal...O que vcs acham? O papagaio representaria o espírito natural do inconsciente.

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