segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Oficina

Diante do Sol de Si-Mesmo


Diante do Sol de Si-Mesmo – uma vivência oracular


Uma proposta de autoconhecimento, que parte da leitura do oráculo ioruba e, através da dança, do canto, das artes plásticas, de elementos teatrais – expressões criativas – propõe que vivenciemos os arquétipos do humano representados pelos Orixás.

Durante a vivência, a leitura do Oráculo será feita de forma individual e compartilhada em grupo.

"A sabedoria das narrativas antigas sobre a origem do mundo e dos homens, as maneiras através das quais protagonizamos a história de nossa espécie estão reveladas nos mitos. Eles trazem, nas malhas de sua rede, a vida em todos os seus acontecimentos. De origens diversas, provocam associações conscientes ou inconscientes que – dependendo do universo das vivências humanas – traduzem um significado" (Ana Zanelli, em 'A Poética dos Deuses – Oráculo Yorubá').



Nossa oficina destina-se a qualquer pessoa que esteja buscando conhecer-se. Quando nos damos ao (re)-conhecimento do nosso “mito pessoal”, criamos a possibilidade de instaurar o equilíbrio e, conseqüentemente, a saúde em todos os âmbitos do Ser. .

Sensibilização.

Contextualização.

Mobilização.

Desenvolvimento dos temas específicos:

Diálogo com a força interior – afeto – missão no mundo: transformação e equilíbrio.

Troca de Experiências.


monicavaleria6@gmail.com; nilson_nunes@hotmail.com

Mônica Valéria Silva de Queiroz Vargas – Mônica Valéria Iaromila – Arteterapeuta AARJ 213, Bacharelanda em Psicologia, Bacharel, Licenciada e Mestre em História pela UERJ, tendo estudado a autobiografia de Olaudah Equiano (1745-1797), estuda a temática Cultura e Religiosidade desde 1990, tendo especial interesse pela história e cultura afro-brasileira e africana. Arteterapeuta e Educadora, atua em ambientes públicos e privados como facilitadora de oficinas desde 2004.

Nilson Nunes é ator e diretor de Teatro. Estudioso da Cultura Yorubá, desde 1985. Em 1990 e 1991, apresentou – em Campinas – na TV SBT, no programa “Jornal da Gente” – o quadro “Magia do Esoterismo”, em que atendia ao vivo aqueles que o solicitavam. De lá para cá, vem ministrando cursos e workshops sobre o Oráculo Yorubá em diversos estados do Brasil. Reside no Rio de Janeiro, desde 1992, onde dá consultas e realiza cursos para os que desejam aprender a usar o Oráculo terapeuticamente.
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segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Arteterapia e Envelhecimento - o Cuidado com Idosos

ARTETERAPIA E ENVELHECIMENTO:
O CUIDADO COM IDOSOS

Programa:
Promoção da Saúde, bem-estar e equilíbrio com pessoas idosas

Sobre o envelhecer – impressões e expressões sobre o chamado entardecer da vida

Avaliações e Critérios

Arte e Envelhecimento

A memória cognitiva – sua importância; técnicas e jogos

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Arteterapia

O arteterapeuta pode atuar em escolas, hospitais, organizações não governamentais, empresas. A arteterapia pode auxiliar também na clínica, objetivando sempre a saúde e o bem-estar.

Segundo a professora Otília Rosângela Silva de Souza, no site da ubaat:

A arteterapia, que é o uso da arte como base de um processo terapêutico, propicia resultados em um breve espaço de tempo. Visa estimular o crescimento interior, abrir novos horizontes e ampliar a consciência do indivíduo sobre si e sobre sua existência. Utiliza a expressão simbólica, de forma espontânea, sem preocupar-se com a estética, através de modalidades expressivas como: pintura; modelagem; colagem; desenho; tecelagem; expressão corporal; sons; músicas; criação de personagens, dentre outras, mas utiliza fundamentalmente as artes plásticas e é isso que a identifica como uma disciplina diferenciada. Enquanto a Arte Educação ensina arte, a arteterapia possui a finalidade de propiciar mudanças psíquicas, assim como a expansão da consciência, a reconciliação de conflitos emocionais, o autoconhecimento e o desenvolvimento pessoal. A arteterapia tem também o objetivo de facilitar a resolução de conflitos interiores e o desenvolvimento da personalidade. Por ser bastante transformadora, pode ser praticada por crianças, adolescentes, adultos, idosos, por pessoas com necessidades especiais, enfermas ou saudáveis. Hoje, é exercida em ateliês e instituições com atendimentos individuais ou em grupos.

No entanto, para ser um arteterapeuta, é necessária uma formação específica, uma vez que a disciplina fica na interface entre a arte e a terapia. Portanto é fundamental aprofundamento e treinamento prático nessas áreas. Para que o profissional seja reconhecido como arteterapeuta pela associação do estado em que reside, é necessário que curse uma formação ou especialização que possua o currículo mínimo e a carga horária mínima estabelecida pela União Brasileira de Arteterapia (UBAAT). Os cursos de arteterapia são ministrados para profissionais de diversas áreas, psicologia, pedagogia, psiquiatria, fonoaudiologia, arte-educação, enfermagem, etc., onde cada um insere a arteterapia em sua área de habilitação profissional.

Possibilidades Arteterapêuticas

Promoção e prevenção da saúde psíquica, emocional e física;
Facilitação do contato e desenvolvimento de potenciais da personalidade, tais como: criatividade, motivação e auto-estima saudável;
Visitação da nossa essência;
Ampliação da percepção, ajudando nas dificuldades de aprendizagem e concentração.
Auxílio em casos de estress, ansiedade, necessidade de acolhimento, problemas de isolamento e solidão, dificuldade de trabalhos em equipe etc.
Entretanto, o mais importante é a acolhida, o olhar, que eu escolhi fazer através da arteterapia. Acredito no cuidado, na criatividade, na fé na vida, no encantamento diário para com ela. Trabalhar para que o maior número de pessoas possível encontrem, a seu jeito e a seu tempo, esse possibilidade de maravilha diante da vida é uma bela missão.

sábado, 21 de março de 2009

Projeto "Grafia de Si através da Arte"




GRAFIA DE SI ATRAVÉS DA ARTE

INTRODUÇÃO

Solitude começa num processo de busca pela inteireza. É um ouvir atento aos apelos do espírito, um silêncio interno que nos permite vislumbrar, sem pressa, os meandros de nosso próprio ser e do mundo a nossa volta, sem comparações e sem angústia, longe de ser solidão, é estar bem consigo mesmo.

Durante um mestrado em história, ao estudar um grande homem que nasceu, viveu e nasceu no século XVIII, chamado Olaudah Equiano, tive a oportunidade de me debruçar mais atentamente na temática das escritas-de-si. Como já estava vivendo a arteterapia e a formação tinha marcado profundamente meu ser, as emoções-conhecimentos arteterapêuticos ainda ululavam em minha memória. Deste encontro surgiu esta oficina: do aprendizado sobre a escrita-de-si e do olhar/vivenciar o processo de descoberta constante que a arte oferece e possibilita.

Parti então para a construção da oficina, na qual a fantasia dirigida de inspiração cabalística é o eixo central, que amalgama os conceitos teóricos sobre diários e relatos autobiográficos. Essa fantasia dirigida propõe que cada qual se reconheça na totalidade, sem comparações, julgamentos ou críticas. Esse ato poderia trazer o contundente reconhecimento de que somos “equipados” exatamente com aquilo que precisamos para construir uma vida de mais bem-aventurança.

Desde o surgimento do indivíduo moderno que temos tomado conhecimento das mais variadas formas de expressar o eu: diários, livros autobiográficos, bem como poemas, quadros e esculturas serviram, servem e servirão para que cada qual busque uma identidade para si e nela se construa.

A proposta é discutir brevemente o relato autobiográfico como possibilidade transformadora, utilizando uma imaginação ativa na qual os participantes serão convidados a descobrir uma de suas potencialidades que os faz especial e que congrega elementos físicos (compleição física), intelectuais, emocionais e transcendentais (espirituais). Essa é uma perspectiva que “empodera” porque reconhecer o que somos, talvez nos ajude a buscar o que queremos ser ou a reforçar padrões de força em nós mesmos.

São vários tipos de fazer autobiográfico, mesmo através de pinturas e esculturas pode-se encontrar tal intuito. Hutton afirma que a autobiografia moderna seria um gênero diferente de retratos de si anteriores porque convidaria os leitores a engajar num tipo similar de introspecção, onde todos deveriam pensar sobre si. Quem merece ser lembrado? E por que lembrar? Hutton aborda um lugar onde o tempo encontra a eternidade e que só pode ser percebido pelo olho interno. As incursões no passado parecem ser formadas por vozes mais caras de nossa memória, para aquilo que nos move para escrever, nossas crenças. A memória seria então uma re-coleção de si, que uniria passado e presente (em cada dado tempo) e daria sustentação e significado à vida, o passado que vale a pena ser conhecido, que restaura conexões com o tempo que teria formado a pessoa que se apresenta.

A autobiografia pode ser vista como uma forma de justificativa e invenção de um novo sentido. O íntimo do indivíduo seria a fonte da verdade, de onde vem a organização do mundo, portanto, seria a sinceridade dessa expressão que interessa, mas do que a coerência e a verdade. Por esse motivo, Calliagaris considera a escrita de si crucial da modernidade, uma necessidade cultural, no qual o sujeito subordina a verdade à sinceridade.

O ato autobiográfico seria algo culturalmente e historicamente datado – um fenômeno moderno e ocidental. Como Calliagaris aponta “É uma escrita autobiográfica que implica numa cultura na qual o indivíduo situe sua vida acima da comunidade a qual pertence... cultura essa na qual importe ao indivíduo sobreviver pessoalmente na memória de outros.

A autobiografia seria uma representação do sujeito por si mesmo ou seria o sujeito um efeito do texto? Quando trabalhamos o tema da coerência tratamos exatamente dessa questão e concordamos com Gomes: “a escrita de si é, ao mesmo tempo, constitutiva da identidade do seu autor e do texto, que se criam simultaneamente através dessa modalidade de “produção do eu”. Quando contamos nossa vida, a re-orientamos e nela forjamos rumos que fluem nas nossas linhas.

A autobiografia recomporia e interpretaria uma vida em sua totalidade, justamente porque levaria o indivíduo a se situar “no que é” na perspectiva do que “tem sido”, seria portanto, para Gusdorf, o substrato da experiência. E essa vida se desenrola num determinado tempo e lugar e na relação entre esse indivíduo e seu contexto reside algumas das respostas, das dúvidas, das afirmativas, que ele produz para empreender a construção de si. É de certo importante perceber que ninguém escreve uma narrativa de memórias ou uma autobiografia sem ter vivido os anos requisitados, sem ter uma vida para contar.

Howarth afirma que as idéias e as crenças que dão à autobiografia seu significado, a filosofia no qual o autor se situa, a fé religiosa, as atitudes políticas e culturais, sendo seu tema também representativo de uma era. Cada autobiografia orquestraria seu tema com seus aportes e contextos, para dar a si mesmo, a sua historia e a seu leitor, um forte senso de unidade intelectual.

Phillipe Lejeune define autobiografia como relato retrospectivo em prosa que uma pessoa real faz de sua vida , a proposta nesta oficina é unir essa possibilidade de nós, como mulheres e homens modernos e pós-modernos, de nos re-descobrir através das linhas de si, uma proposta estruturante e de empoderamento, que pode ter uma continuidade e aplicabilidade no set arteterapêutico.

- explanação sobre autobiografia e a importância das linhas de si.
- Fantasia Dirigida: Os 4 mundos (de inspiração cabalística, possindo equivalente em outras tradições).
- Expressão plástica da experiência e discussão socializada do que ficou dela. - A proposta final é que cada qual encontre sua forma pessoal de se "artegrafar", uma proposta de aperfeiçoamento de si e conseqüentemente do mundo a sua volta.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O reconhecimento de que nascemos exatamente com aquilo que precisamos para viver essa jornada de um modo mais pleno é paulatino, mas que empreitada poderia ser mais válida? O início se faz sempre de um primeiro passo: no nosso caso, uma primeira oficina, onde, a partir de um reconhecimento saudável do si-mesmo e de uma "artegrafia", começamos a fiar um belo bordado, que pode vir a enfeitar de fortalezas e amor-próprio a nossa existência.

HUTTON, Patrick H. William Wordsworth and Sigmund Freud – the search for the self historicized. In: HUTTON, Patrick. History as an art of memory. Hanover: University Press of New England, 1993.
CALLIAGARIS, Contardo. Verdades de autobiografias e diários íntimos. Estudos Históricos. Rio de Janeiro: v. 11, n. 21, 1998. Pág. 5.
CALLIAGARIS, Contardo. Pág. 13.
[3]GOMES, Ângela de Castro (org). Escrita de Si, escrita da História: a título de prólogo. In: GOMES, Ângela de Castro (org). Escrita de Si, escrita da História. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004. Pág 16.
OLNEY, James (ed). Autobiography – essays theoretical and critical. New Jersey: Princeton University Press.
HOWARTH, William L. Some principles and autobiography. In: OLNEY, James. (org). Autobiography: essays theoretical and critical. Princeton, New Jersey, USA: Princeton University Press, 1980.

REFERÊNCIAS:
BELLO, Susan. Pintando sua alma. Rio de Janeiro: WAK Editora, 2003.
COOPER, David. A. Three meditation gates to meditation practice. Vermont: Skylight Paths Publishing, 2000.
GOFFMAN, Erving. A representação do eu na vida cotidiana. Petrópolis: Editora Vozes, 1985.
GOMES, Ângela de Castro (org). Escrita de Si, escrita da História: a título de prólogo. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004.
HOWARTH, William L. Some principles and autobiography. In: OLNEY, James. (org). Autobiography: essays theoretical and critical. Princeton, New Jersey, USA: Princeton University Press, 1980.
HUTTON, Patrick H. William Wordsworth and Sigmund Freud – the search for the self historicized. In: HUTTON, Patrick. History as an art of memory. Hanover: University Press of New England, 1993.
JUNG, C.G. AION – Estudos sobre o simbolismo do si-mesmo. Petrópolis: Editora Vozes, 1976.
JUNG, C.G. Memórias, sonhos, reflexões. São Paulo: Editora Nova Fronteira, 2002.
LEJEUNE, Philippe. El pacto autobiográfico y otros estúdios. Madrid: Megazul, 1986.
OLNEY, James (ed). Autobiography – essays theoretical and critical. New Jersey: Princeton University Press. 1980.
PAÏN, Sara & JARREAU, Gladys. Teoria e técnica da arte-terapia – a compreensão do sujeito. Porto Aleger: Artes Médicas, 1996.
VARGAS, Mônica Valéria Silva de Queiroz. Autobiografia de um “africano ilustrado” – um estudo de caso – Olaudah Equiano (1745-1797). Dissertação de Mestrado, apresentada ao PPGHIS-UERJ, abril de 2006.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Jornada do Herói


JORNADA DO HERÓI - Diálogo com nossa força interior

Concepção e organização do workshop:

Grace Storni Rocha, Melissa Caetano, Mônica Queiroz Vargas.

Apresentado no I Encontro de Arteterapia do Mercosul,Rio de Janeiro

O herói reside em todos nós, sua força, entretanto, é diferenciada como são diferenciadas as potencialidades humanas. Essa vivência visa o início do conhecimento desse herói interno e o encontro com tais “armas e escudos” que possuímos, sejam lá quais forem. Na nossa sociedade tendemos a vislumbrar o herói como aquele que tão-somente utiliza a força bruta para vencer os obstáculos de seu caminho, entretanto, a vida nos ensina que o grande aprendizado está em potencializar o nosso agir e tirar o melhor proveito possível daquilo que somos e das armas das quais dispomos, um aprendizado sobre a nossa própria potência possibilita um sucesso mais verdadeiro, ou seja, dentro dos padrões pessoais de felicidade.

OBJETIVO

Nesse workshop, a proposta é que experenciemos através do personagem mítico Arjuna, do Mahabharata, uma passagem visual e vivencial pelas etapas da jornada do herói, a saber: Vida no mundo comum; chamado à aventura; recusa ao chamado; encontro com o mentor; testes, aliados e inimigos; aproximação da caverna oculta; provação suprema; caminho de volta; ressurreição; retorno com elixir.

METODOLOGIA

Através da música, imaginação ativa e expressão verbal e corporal, os participantes serão convidados à “aventurarem-se” em si mesmos e reconhecerem seu herói, que, parafraseando Joseph Campbell, pode possuir muitas faces. Nessa jornada alguns encontros serão pontuados: a criança divina, o velho sábio, a grande mãe, a sombra.

Esses encontros são um diálogo entre o herói em construção e esses “personagens” em nós mesmos. Escolhemos Arjuna porque é um guerreiro que busca travar também uma batalha espiritual pelo aperfeiçoamento de si. É uma jornada externa e interna, uma querela mágica, que transforma um ser temeroso num herói de si mesmo.

O grande aprendizado está em potencializar o nosso agir e tirar o melhor proveito possível daquilo que somos e das armas das quais dispomos, um aprendizado sobe a nossa própria potência. Isto possibilita um sucesso mais verdadeiro, ou seja, dentro dos padrões pessoais de felicidade.

Arjuna, um dos pandavas do Mahabharata (entre 400 e 300 aC), cujo diálogo com o Todo-Amoroso Krishna fez nascer o Bhagavad Gita. Escolhemos Arjuna porque é um guerreiro que busca travar também uma batalha espiritual pelo aperfeiçoamento de si, vivenciar seu dharma, a ação em vida. É uma jornada externa e interna, uma querela mágica, que transforma um ser temeroso num herói de si mesmo.

Arjuna é um herói supremo, possui a entrega e a certeza necessária. Ele é um arqueiro perfeito, cuja seta alcança o objetivo maior: o conhecimento de si. Seu arco chamava-se Gandiva. O Mahabharata é um poema épico com mais de cem mil estrofes, o Bhagavad Gita é o capítulo 63.

O Rei Pandu, pai de Arjuna, falece e seu irmão mais velho Dhritarashtra torna-se o sucessor (ele não havia podido reinar antes por ser cego). Os órfãos de Pandu, os pandavas, Arjuna e seus 4 irmãos, passam a serem educados pelo novo rei com seus 100 filhos. Duryodhana, o mais velho dos Kauravas, filho de Dhritarastra foi motivado pela inveja para destruir seus primos, sempre planejando contra eles. Por medo de ser usurpado, acabou por se tornar um usurpador. Depois de várias traições, os pandavas são banidos do reino e vão com sua mãe, a rainha Kunti, viver numa floresta. Depois de um tempo no exílio, os pandavas ficam sabendo de um torneio por uma dama de um país vizinho. Arjuna, o terceiro dos irmãos, decidiu competir. Usou seu arco com eficiência e venceu. Este casamento deu-lhes uma importante aliança, e novamente foram ameaçados pelos Kauravas. Com receio de sua força e sabendo de seu direito, o pai de Duryodhana ofereceu-lhes a metade do reino, enfurecendo-o ainda mais. O irmão mais velho dos pandavas, Yudhistira, foi coroado.

A guerra tornou-se inevitável pela insana ambição dos Kauravas, representado principalmente pelo irmão mais velho. No campo da batalha de Kurukshetra em Hastinapura, Krishna (que era aquele que carregava a quadriga ou biga) foi atacado. O condutor jamais deveria ser atacado, mas esta regra de cortesia não foi respeitada. Quando Arjuna percebeu que Krishna seria atingido, se colocou na sua frente, isso representando o aspecto Bakhti, de completa devoção.

Ali, no campo de batalha, no momento crucial antes de seu início... Arjuna fraquejou, teve receio de agir, contra seus parentes, que afinal estavam nos dois lados do campo. Nesse momento Krishna profere seu discurso - Bhagavad Gita. O diálogo travado desvela o antagonismo da batalha humana. Krishna instrui Arjuna na doutrina da liberação e da yoga, que flui através das ações de um guerreiro, que não pode abandonar seu dharma, seu caminho no mundo. Krishna instigou Arjuna à luta, mostrando-lhe a temporalidade que permeia a vida. A tarefa de Arjuna é vencer o poderoso mundo de ilusões para chegar ao conhecimento de sua verdadeira essência divina.

Bibliografia

O Bhagavad Gita. Editora Pensamento

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Editora Pensamento.

Vogler, Christofer. Writer´s journey. Editora Pan Macmillan.



Imagens da Formação



Anajô, Lígia e Dirlene
nos últimos meses da formação... trabalhos finais
em pé... Ricardo tirando fotos dos trabalhos

Melissa

Grace

Ricardo

Nos trabalhos finais... Lígia Diniz observando...



Do Azul



COR AZUL – MÔNICA VARGAS

Azul da cor do céu, azul da cor do mar... o nosso planeta é azul...O azul é uma cor fria, essencialmente feminina, expressão de calma e contemplação. Suscita tranqüilidade e paz, símbolo da sabedoria transcendente e divina. Cor que convida ao mergulho, que busca o infinito. Caminho da divagação quando é claro, caminho onírico quando é índigo. A junção das duas cores é a alma liberada em direção ao Divino.

Cor suave, terna e afetuosa. Favorece atividades intelectuais e meditativas. Cor concêntrica, perceptiva, incorporativa, compassiva e unificadora...A contemplação do azul deixa profundidade, leveza e contentamento.
...O silêncio é azul...

Os efeitos orgânicos da cor azul, segundo alguns, são de redução da freqüência cardíaca, diminuição do ritmo respiratório, inibição de descargas de adrenalina e pode ter efeito hipnótico no sistema nervoso central. Com essa redução de ritmos, o organismo tende a recarregar-se energeticamente.

É indicado em casos de estresse, estafa, pressão alta, obesidade, taquicardia, insônia, ira e irritabilidade. Também pode ajudar em agitação psicomotora e neuroses.
As contra-indicações são somente em caso de fadiga, estupor, medos e fobias acentuados.
Dá aparência jovem e arrojada, é calmante de tensões nervosas. O azul deve ser usado com parcimônia e bom senso, como qualquer cor.
O Senhor dos Exércitos ordenou aos filhos de Israel que usassem um barrado azul nas suas vestes. Odin veste azul. Vishnu é representado também com a cor azul. O manto de Maria é azul. Azul era uma cor sagrada para os Druidas, aquele que recebesse o título de bardo por ocasião da celebração do Eisteddfod era abençoado com uma espada e ganhava uma fita azul. Algumas culturas asiáticas acreditam que o azul afasta mal-olhado. Também se acredita que seja o azul um envelope áurico que contém e sustém a vida. Nas religiões afro-brasileiras contas azuis claro podem ser de Oxossi, Logun Edé, Iemanjá; contas azuis escuras são de Ogun. Oxum também pode vestir azul por causa do sincretismo com Nossa Senhora Conceição e pela forte relação que este Orixá tem com as águas.
Na cromoterapia, o raio cromático azul é considerado estabilizador. Cor da perfeição.
Os cristais relacionados aos azuis são: água marinha, turqueza, turmalina azul, safira, lápis-lazuli, azurita e a sodalita.
O índigo combina poder com aptidão prática, determina profundas reformas em todos os níveis do ser. Governa a visão física e a visão superior.
O azul é o primeiro raio, representa a Vontade de Deus, fé, proteção, força e poder. O mestre ascensionado El Morya é o seu guia, cujo complemento divino é Myriam. Seu dia é o Domingo. Seu arcanjo é Miguel, cujo complemento divino é Fé. O Elohim desse raio é Hercules, cujo complemento divino é Eloah Amazon.
O índigo é a cor do chackra frontal, enquanto que o azul é do laríngeo. Segundo esta vertente de compreensão das cores, o índigo é a cor da intuição, observação e mente objetiva. Dinamiza a visão, a vidência, a audição e o cérebro humano. O azul seria o lugar da inteligência prática, dinamizaria o potencial da palavra e a energia descendente. Também funcionaria como um filtro para vibrações que vem de baixo.
A vela para pedir por boa saúde é azul. Quando a chama de uma vela fica azul, os esotéricos acreditam que fadas e seres celestiais estão no ambiente.
A falta de azul pode trazer resistência a mudanças, inflexibilidade, não entendimento da liberdade.
Um professor chamado Dinsha Gadhiali, considera que a cor azul:
Retira a energia seca, deixa a energia úmida
Em conjunto com o laranja (laranja depois azul) poderia acelerar a cicatrização pós-operatória e diminuir a dor. Ajuda contra os sintomas da acne; ardores e dor por herpes zoster; broquites por calor úmido. Dores ciáticas; Conjuntivite; Inflamações das articulações; queimaduras, entre outras coisas.
No azul depois laranja, pode ajudar em bronquites, cistites, espasmos, colite com espasmo.
Viga Gordilho, expressa seu amor pela cor através da tese de doutorado: Cantos, contos e contas: uma trama às águas como lugar de passagem. Ela relacionou lugares, céus e rios e a memória que esses azuis trazem. Para ela, o azul é o território da afetividade. Viga descobriu que o primeiro pigmento azul foi provavelmente desenvolvido no Antigo Egito, era o lápis lázuli (extraído no Afeganistão e Egito). Esse tom de azul, igual ao da pedra anil, foi redescoberto nas obras de Ticiano. O artista plástico Yves Klein fez imensas telas azuis que já foram comparadas à plataformas de meditação, é só observa-las por um tempo que se entra quase em transe. Para ele, o azul unificaria céu e terra, diluindo a linha do horizonte e expandindo o infinito. Em 1957, Klein já havia declarado que a terra seria azul. O azul aparece em pouquíssimas flores e em nenhum alimento, “ele nutre apenas a alma”, afirmou a artista plástica Viga. Um arquiteto de São Paulo disse que o azul está “associado àquilo que transcende o material e se torna imaterial”. É associada ao conhecimento porque vem do alto, do céu, dos planos superiores...
O azul é a cor da quietude, não da indolência. O sexto chacra, frontal, azul-índigo é casa da preguiça... também está relacionada às percepções sutis, a ativação da função mental. O azul claro estaria ligado à luxúria, a submissão completa ao desejo de experimentar o máximo de tudo que vêm dos sentidos, mesmo que leve a uma certa decadência. O chacka laríngeo seria o regulador desse impulso, que pode ser positivo quando está na sua face de desfrute de sabores, qualquer que sejam eles. Este chakra, localizado na altura da garganta é ligado à comunicação e à expressão, por isso saber medir som e silêncio é uma característica azul. A temperança é a virtude da moderação e do equilíbrio.
Meu intuito com a oficina do azul foi trazer o lado mais profundo das duas variações, claro e índigo, a pureza de um, a profundidade do outro. A junção dos dois convida ao infinito de nós mesmos, afinal, a busca também é Deus.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Contos






Allah, o misericordioso e compassivo

VON FRANZ, Marie-Louise. Os banhos de Bâdgerd. In: A individuação nos contos de fada. São Paulo: Editora Paulus, 1984.

Os banhos de Bâdgerd

Dirlene Neves Pinto
Grace Storni
Melissa Caetano
Mônica Valéria S. de Queiroz Vargas

Quando a serviço da Rainha Husn Banû, Hâtim Tâi assumiu o sétimo encargo para o Rei e para a Rainha... O encargo foi o de ir em busca dos Banhos Bâgderd, o Castelo do Nada. Partiu Hâtim para o deserto, diante das portas da cidade, onde encontrou um velho que o convidou à sua casa e lhe perguntou para onde se dirigia. Hâtim Tâi respondeu que esta indo em busca dos Banhos Bâdgerd.

O velho exclamou, depois de longo silêncio:
- “Jovem, que inimigo te envia em busca dos Banhos Bâdgerd? Ninguém sabe onde encontrá-lo. Ninguém jamais voltou da busca por ele. Na cidade de Qâ´tan há um rei cujo nome é Hârith, que colocou uma fileira de guardas em torno da cidade para todo aquele que ande à procura de Bâdgerd seja levado à sua presença. Ninguém sabe porque ele faz isso; ou se ele mata as pessoas ou as deixa ir...”

Hâtim respondeu-lhe
- “Preciso ir e Deus tem que me proteger pois não pretendo desistir da tarefa.”

O velho abençoou Hâtim, dizendo-lhe:
- “Volta! Esse banho é lugar enfeitiçado e ninguém sabe onde fica, de lá ninguém jamais regressou!”

Entretanto, ante a persistência do jovem herói, o velho ensinou-lhe o caminho:
- “Tome a direita, quando chegar numa montanha em cujo sopé houver muitos ciprestes e para além se estender o deserto, deverá virar à esquerda – o caminho da direita é menos difícil, porém, mais perigoso.”

Hâtim prossegue o caminho e chega a uma aldeia. Nas proximidades há gente reunida numa espécie de festa com muita comida. Ele vai ao encontro dessas pessoas e pergunta-lhes a razão de tanta alegria. Eles responderam que no deserto vivia um poderoso dragão que ao assumir a forma humana, vinha escolher uma das jovens da cidade, essa era a razão do festival. Todos estão ali celebrando esta festa porque são forçados.

E o heróis responde:
- “Então este festival que parece alegre, na verdade é um dia triste para vocês!”

Hâtim fica sabendo através do rei do lugar que o dragão é um djin (Gênio) de natureza muito destrutiva. Ele então pede ao rei ordenar ao povo que se faça exatamente o que ele mandar: quando ele escolher uma das filhas, deveriam dizer ao dragão que ali se encontra um jovem nobre que ordenou que a moça não seja entregue sem sua permissão. E se eu sua fúria, o djin pode destruir o reino inteiro em um ano, o tal jovem pode manda-lo de volta para o deserto em um segundo.

Ao que o djin responde:
- “Tragam aqui o tal moço”.

Quando Hâtim se aproxima, o djin fala:
- “Eu nunca o vi antes. Por que descaminhas este povo, que antes me obedecia?

- “Não pretendo interferir em nada” - Hâtim exclama – “mas no meu país, o noivo tem que passar por algumas cerimônias antes de esposar sua prometida”.

- “Como são tais cerimônias?”, diz o djin.

O herói diz ter trazido consigo um talismã, herança de seus ancestrais, o qual é colocado dentro da água que o noivo deverá beber. Ele coloca o talismã dentro da água, o djin bebe, desconhecendo ser tudo um engodo, já que tal talismã teria a força de retirar-lhe o poder.

Hâtim continua dizendo que a segunda cerimônia consistiria em enfiar o noive num enorme barril sela e do qual ele teria de sair. Se o noive conseguisse tal façanha, teria a noiva. Senão, teria de dar ao desafiante 2000 diamantes para serem entregues à pretendida.

O djin entra no barril acreditando ainda ter poderes, mete-se lá e não consegue mais sair. O povo ateia fogo e depois Hâtim enterra o barril bem fundo no chão. A desgraça chega ao fim e o povo pode festejar...

O rei presenteia Hâtim com ouro e prata, mas ele distribui tudo aos pobres. Passados três dias, o herói põe-se no caminho.

Hâtim escala uma montanha e chega ao imenso deserto. Ali, ele vaga por dias, bebendo água de onde pudesse acha-la, fresca ou estagnada. Chega numa bifurcação e hesita em qual direção tomar. Mas ele lembra do velho e acha que o ancião havia lhe aconselhado seguir pela esquerda.

Depois, no caminho da esquerda, ele lembra que o conselho versava pelo caminho da direita. Pensa e decide retornar, mas percebe-se num emaranhado de arbustos. Sente-se muito infeliz. Entretanto, consegue desvencilhar-se. Mas ainda não é o bastante, vê animais correndo na sua direção, são raposas, chacais e panteras e tenta escapar.

De repente, estanca, e nesse momento crítico, surge o velho:

- “Jovem, deverias dar mais atenção às palavras dos mais velhos e experientes...Agora, empunha teu talismã e vê o poder de Allah!”

Hâtim lança o talismã e o velho desaparece, enquanto a terra se torna amarela, negra, verde e por fim, vermelha. Quando o vermelho surge, os animais ficam furiosos uns com os outros e se estraçalham. O herói se surpreende ao perceber fúria dos animais contra si e não contra ele, recolhe o talismã e retorna ao seu caminho.

Depois de passar por uma floresta de bronze repleta de farpas de metal que ferem seus pés, Hâtim continua até encontrar gigantescos escorpiões. O velho ressurge e o mesmo acontece, ele lança mão do talismã e a terra torna a ficar amarela, negra, verde e vermelha. Quando a cor rubra aparece, os escorpiões começam a se atacar e Hâtim escapa.

No tempo devido, Hâtim chega a Qâ´tan e coloca no bolso 2 rubis, 2 diamantes e 2 pérolas. Dirige-se para o palácio real e declara ser um mercador vindo de Shahabad. Pede para ver o Rei Hârith porque quer entregar-lhe preciosas gemas.

O rei convida o herói para sentar-se junto ao trono e passar com ele uma temporada. O rei chega a convida-lo para ali ficar para sempre, na medida que Hâtim o presenteia com pedras preciosas. Nesse ínterim, o herói sempre sugere que há um pedido que ele terá de fazer. O rei acha que é sua filha que o herói deseja pedir em matrimônio e chega a oferece-la. Mas Hâtim responde:

- “Não, não pretendo desposar sua filha.”
Só depois que o rei se compromete em realizar-lhe qualquer desejo, Hâtim revela seu intento de ver os Banhos Bâdgerd. O rei senta-se e fica em silêncio ante o pedido. Hâtim pergunta:

- “Que tens tu, ó Rei, porque estais tão triste?”

- “Há muitos pensamentos em minha mente, meu jovem” – reponde o rei - “Fiz voto de jamais permitir que alguém vá aos Banhos e ao mesmo tempo me comprometi contigo...estou portanto entre duas promessas. Além disso, ninguém jamais voltou de lá e seria uma pena ver algo acontecer a tão belo e nobre jovem.”

Ao que Hâtim retrucou:

- “Ó Rei, se Allah assim o quiser, hei de regressar com vida e rever-te, portanto, deixa-me ir!”

O rei consente, abraça o jovem e mostra-lhe o caminho. Hâtim segue a estrada, alegremente conversando com os cavaleiros que lhe são concedidos pelo rei. Depois de algum tempo, ele avista um estranho objeto, parece uma cúpula a recobrir o topo de uma alta montanha. Os acompanhantes explicam que aquilo é o portal dos Banhos Bâdgerd, que atingirão em 7 dias.

Dali a 7 dias, eles encontram um enorme exército. Os companheiros contam que Sâman Idrak é o guardião dos Banhos e o exército guarda a entrada e recusa passagem a qualquer pessoa que não possua a permissão do Rei de Qâ´tan. Hâtim mostra tal permissão e é levado a Sâman.

Sâman ameaça-o dizendo-lhe que perderá sua vida se insistir em seguir adiante. Nada demove Hâtim e Sâman conduz o herói até os banhos. Hâtim olhou para o imenso portal que se erguia até as nuvens. Por cima da gigantesca porta, a seguinte inscrição:

Este lugar encantado, construído na época do Rei Gayomardo, perdurará muito tempo
como um sinal, e todo aquele que cair sob seu encantamento jamais dele voltará
a escapar, pois o espanto e horror serão seu fardo. Padecerá de fome e sede.
Certamente, enquanto viver ser-lhe-á permitido comer dos frutos do jardim e ver o que há a ser visto neste lugar, mas muito dificilmente conseguirá dele sair.

Quando leu tal inscrição, Hâtim pensou em voltar porque ali estava revelado o segredo dos banhos e refletiu “por que seguir adiante?”. Estava a ponto de recusar, mas acabou por chegar a conclusão que ainda não descobrira o verdadeiro segredo e disse a si mesmo que era preciso prosseguir. Despediu-se dos companheiros e transpôs o portal. Após aquele passo, estava só, não avistou mais nada, nem porta, nem gente, apenas um deserto sem fim...Naquele momento percebeu o significado dos Banhos Bâdgerd, o Castelo do Nada e compreendeu que, agora que transpusera o portal, estava caminhando para a morte...E pensou que ali haveria de enterrar seu ossos...começou então a andar a esmo.

Depois de muitos dias, avistou um jovem que trazia um espelho – era o barbeiro do Banhos Bâdgerd – que saudou o herói e mostrou-lhe o espelho. Hâtim mirou-se e perguntou onde ficavam os Banhos. O jovem barbeiro então responde:

- “Os banhos Bâdged ficam mais adiante. Sou incumbido de receber os forasteiros e conduzi-los até lá, e assim receber minha propina.”

Caminham juntos até chegarem a uma imensa cúpula que parecia chegar aos céus. O jovem toma a dianteira e diz para Hâtim segui-lo. Ao entrar, Hâtim vira-se para fechar a porta e só encontra uma parede de pedra! O barbeiro o conduz ao banho, aconselhando-o a entrar, enquanto ele vai à procura de um pouco de água quente.

O herói, já no banho, é servido pelo barbeiro, que traz água quente para jorrar por sua cabeça. O jovem o faz por 2 vezes...na terceira, ouve-se um trovão e o local fica em trevas. Hâtim fica na mais completa escuridão e muito confuso. Quando a escuridão desvanece, somem o barbeiro e o banho. Permanece a cúpula, uma abóbada rochosa e o herói está com água até as canelas...Quando ele ainda está tentando entender a mágica, a água sobe-lhe até os joelhos...Procura uma porta e nada encontra....Sem saída, e com água até o queixo, Hâtim pensa que aqueles que não haviam regressado teriam se afogado em tal lugar, e então pensa: “Se o homem se defronta com a morte, só lhe resta voltar os olhos para Allah, todo misericordioso”.

E aí reza:

- “Allah, coloquei toda minha força ao teu serviço e só possuo uma vida; porém, mesmo que tivesse mil vidas, ainda assim haveria de submetê-las a tua vontade. Faça-se pois, a tua vontade!“

A água continua a subir e ele é forçado a nadar. E a água carrega-o para o alto, ao nível da cúpula central. Cansado de nadar, ele tenta se agarrar a ela. No momento em que toca a pedra circular, um trovão irrompe e o herói se vê de pé, num deserto. Neste momento ele pensa: “se escapei da inundação, também escaparei ileso do restante dessa absurda mágica”.

Por 3 dias e 3 noites, caminhou até avistar um alto edifício. Em torno dele, um grande jardim. Quando Hâtim transpõe o portão aberto, o jardim desaparece. Quando tenta retornar, o portão não mais existia. E ele pensa: “ora, ora, que nova tortura é essa? Não terei ainda conseguido sair desse círculo mágico?”

O jardim reaparece e o herói decide percorre-lo, já que preso ali está.Vê árvores repletas de frutas e as mais lindas flores de um maravilhoso colorido. Ele come algumas frutas e uma fome insaciável o acomete, ele chega a comer ½ tonelada delas sem conseguir satisfazer-se...entretanto, consegue recobrar-se e prosseguir. Ele vê estátuas plantadas em torno do edifício, como se fossem ídolos. Enquanto estava ali absorto nos pensamentos, um papagaio o chamou de dentro do castelo, indagando:

- “Por que está aí parado, jovem? Como conseguiu aqui chegar e por que acha que sua vida findou?”

Hâtim olhou para cima e por sobre a entrada do castelo, onde havia uma nova inscrição:

Servo de Deus: provavelmente tu jamais deixarás este lugar com vida. Os Banhos foram encantados por Gayomardo que, tendo saído à caça, certa vez, encontrou um diamante brilhante como o sol e opalescente como a lua... Ele apanhou tal tesouro e mostrou aos cortesãos e eruditos, e todos ficaram maravilhados com a raridade da pedra....Gayomardo
construiu os Banhos Bâdgerd para proteger a pedra e em torno dele usou toda sua magia. Até mesmo o papagaio em sua gaiola está sob encantamento.
Servo de Deus, dentro do castelo, sobre o trono de ouro, verás um arco e flecha. Se pretende escapar, toma-os e mata o papagaio para quebrar o encanto. Se não acertares, porém,
há de virar uma estátua de pedra.

Hâtim assentiu que agora sabia o destino dos que estiveram ali antes dele, viraram estátuas de pedra porque não conseguiram atingir o papagaio encantado. Resignado e decidido, entra no castelo, tomou as armas e atirou no pássaro. Este, entretanto, voou. Hâtim viu suas pernas tornarem-se pedra. O pássaro dele zomba:

- “Segue teu caminho, jovem! Este lugar não é para ti!”

Pelo peso das pernas, Hâtim não consegue se aproximar. Lágrimas vieram a seus olhos e ele pensou que horror seria viver ali naquele mísero estado. E disse a si mesmo: “atira novamente, ao menos para ficar todo petrificado.” Assim o faz e erra mais uma vez, tornando-se pedra até o umbigo
O papagaio voou e disse:

- “Vai-te jovem! Este lugar não é para ti”

Hâtim desespera-se ao tentar alcançar o animal e exclama aos prantos:

- “Que ninguém perca a meta da própria vida, como eu!”

Ainda restava uma flecha e o jovem mirou o pássaro e gritou:

- Deus é grande! Fechou os olhos e atirou.

A flecha atinge o alvo.

Uma nuvem de pó ergue-se. Um trovão ecoa. A terra escurece.

Confuso, Hâtim pensou ter virado estátua. Quando finalmente abriu os olhos:
O jardim, a gaiola, o trono, o arco e flecha. Tudo havia desaparecido.
Diante dele, um enorme e lindo diamante. Hâtim estendeu a mão e pegou a pedra. Seu corpo voltara ao normal e as outras estátuas voltaram à vida. O jovem relatou o acontecido aos outros homens e todos ficaram agradecidos e se ofereceram para servi-lo. Hâtim convidou-os a segui-lo até Qâ´tan.

Depois de dias, encontraram a porta. Do outro lado, Sâman Idrak recebeu-os na sua própria casa e conduziu-os até a estrada de regresso. Chegaram a Qâ´tan e Hâtim foi até a presença do Rei Hârith, contando-lhe o acontecido e mostrando-lhe o diamante. Ele pretendia leva-lo à Rainha Husn Bânu, como prometera. Depois pediu ao Rei que distribuísse dinheiro e cavalos a seus acompanhantes.

Feito isto, Hâtim despediu-se do Rei Hârith e retornou a Schahabad.

O povo da Rainha Husn Bânu, conduziu-o ao palácio quando o herói em Schahabad chegou. A rainha o recebeu, ouviu o seu relato e contemplou o diamante. Após a celebração do casamento da rainha com o Príncipe Munir, Hâtim retornou ao Yemen, sua terra natal, onde mais tarde se tornou herdeiro do trono de seu pai, vivendo feliz todos os dias de sua vida...

FIM

Voltemos à interpretação:

Von Franz afirma que devemos compreender o conto também pelos vários símbolos alquímicos por ele trazidos. O herói é levado avante sem qualquer hesitação. Ele nem discute e faz o que tem de ser feito – unicidade – incomum da personalidade.

O herói também personifica o Self ou o que a alquimia chamaria de o homem uno, a personalidade unificada com toda a sua força.

Hâtim está a serviço da Rainha e tem uma tarefa a cumprir – explorar o desconhecido tenebroso, o Castelo do Nada.

A Rainha deu-lhe a tarefa e a anima faz isso com o homem, cria nele certa inquietude de procura: existe algo não encontrado, um inquieto anseio por alguma espécie de meta ou aventura na vida. A anima estabelece a meta do processo de individuação.

O herói confessa estar buscando acerta o alvo de sua vida, embora não soubesse disso quando iniciou a viagem (busca).

O Banho seria o inconsciente, àquela área da psique que nos é desconhecida. O inconsciente se apresenta como nulidade, o vazio, sem significado.

Segundo Von Franz, o djin teria sua anima possuída. Aqui temos que entender que para a cultura monoteísta islâmica, os antigos ídolos das tribos passam a representar poderes malignos, sem que no entanto o sejam...

Hâtim é um herói a serviço da Rainha e portanto, um homem que estabeleceu por uma meta diferente sua anima e sua função Eros. Naturalmente ele é a pessoa apta a lograr o djin/dragão. E o faz por meio de um amuleto que enfraquece o gênio.

O homem que aprisiona os afetos e impulsos primitivos dentro de barris, garrafas e quaisquer recipientes está racionalizando-os segundo a autora. Enterrando o gênio, Hâtim torna a escapar de um conflito ético por recursos mágicos.

O diamante é a meta de sua vida, caminho para encontrar o Self – a prima matéria (simbologia alquímica).

Os escorpiões representam o simbolismo oposto entre vida e morte.

As 4 cores são os 4 pontos cardeais, e aqui a autora faz alusão ao homem primordial – Adam Kadmon. Os Banhos Bâdgerd foram edificados por Gaymardo, que vem a ser esse primeiro homem cósmico primordial da tradição persa (ele existe em diversas tradições).

Quando a autora toca no barbeiro que vai ao encontro de Hâtim, cita Jung que concluiu que “desde os tempos mais antigos, a raspagem da cabeça esteve relacionada à consagração, à transformação espiritual ou iniciação”. O Barbeiro é aquele que leva o herói até o reino do inconsciente, que o inicia nos seus segredos mágicos e o simbolismo do espelho é bastante pertinente aqui.

Na medida que o herói vai se afogando, o Self vai se aproximando dele. Ele é pressionado em direção à sua verdadeira personalidade.

O Jardim representa segundo Von Franz o aspecto maternal inconsciente, criador de ilusões (como vênus). O inconsciente contém um diamante, a possibilidade de individuação, mas também desorienta as pessoas, caso não tenham o guia certo.

Quando entramos em contato com o self, podemos acertar o alvo – representa o equilíbrio interno entre inteligência (razão) e intuição. Outra analogia: o Conteúdo e a Forma.

Hâtim só consegue atingir o algo graças a oração e não pela mira. É quando ele olha para dentro e atira que acerta, abrindo mão dos propósitos de seu ego.

O papagaio oculta a visão do diamante (pedra filosofal), símbolo do self.

Estátuas – segundo estudos de Jung, é um símbolo do corpo ressuscitado.

O pássaro
Pedra filosofal: “pássaro que voa sem asas, nas trevas da noite e à luz do dia. Do amargor de sua garganta, podemos tomar a cor, que a tudo transforma. Esse amargor é colorante veneno.”
Em outros textos alquímicos, o ácido que transforma o ouro em espírito puro.

Lembrar de fazer a interessante analogia entre amargura e petrificação.

O processo alquímico é segundo a autora, uma representação simbólica do processo de individuação, significa um fortalecimento e solidificação da personalidade individual.

Petrificação – individuação mal sucedida?

É por isso, diz-nos esta nossa história, que Hâtim e todos os que tentaram, antes dele, chegar ao diamante – ao verdadeiro significado daquilo que se acha por trás do mistério do papagaio, petrificaram-se. Porque se você não olha para dentro, não alcançará a meta externa, até porque ela não é externa...

O diamante representaria tal unificação. Ele é um símbolo da totalidade e do self, no qual os impulsos instintivos e animais se unificam com a espiritualidade do homem, voltando a ser um só todo, que estava em possessão de Gayomardo.

Segundo a autora, há um exagero no pólo espiritual que “envenena” a personalidade humana natural: onde as obrigações formais islâmicas estariam acima do esforço interior em direção à redenção. Na versão indiana o pássaro é sábio e não um demônio que esconde o diamante. Sinceramente, não percebi mesmo na versão persa o papagaio como demônio, colegas. Apenas é de uma outra qualidade e está ali para testar a força dos heróis. É parte da pedra filosofal...O que vcs acham? O papagaio representaria o espírito natural do inconsciente.

Manet


FORMAÇÃO EM ARTETERAPIA – FACILITADORA: LÍGIA DINIZ

APRESENTAÇÃO DO ARTISTA
- ÉDOUARD MANET (23/01/1832-30/04/1883)
É importante explicar a escolha por Manet. Van Gogh foi o primeiro pintor a me arrebatar quando eu tinha 10 anos aproximadamente, com sua noite estrelada. Entretanto, foi com o quadro “O velho músico” de Manet que experimentei algo difícil de exprimir em palavras: aquela sensação de olhar um quadro, mergulhar nele e o tempo parar. Significados não são suficientes para expressar sensações... este quadro me causou uma sensação de pertencimento bastante contundente. Eu o vi num museu em Houston acho eu, só sei que sentei na frente dele e fiquei por algum tempo ali, olhando os olhos do cigano. Em sua homenagem, conheçamos Manet.
Harris considera que a abordagem de Manet era espontânea. Seu estilho direto e o uso de cores fortes teria ofendido os princípios artísticos de tempo. Manet fez nus não clássicos e isso o marcou pelo resto da vida. Entretanto é importante ressaltar que a inspiração de Manet talvez viesse do paradoxo em que vivia: não conseguia dizer não ao seu espírito criativo e expressava esse traço de forma bastante sofisticada, ao mesmo tempo, seu corpo, acostumado ao comportamento social da alta classe média, jamais se permitiu adentrar completamente os movimentos renovadores de seu momento. Manet não obteve reconhecimento do público que valorizava os pares e o consideravam obscuro. A primeira mostra dos Impressionistas, que foram bastante inspirados no traço de Manet, realizou-se seu sua presença. Manet ganhou uma medalha de segundo lugar no salão depois de algumas tentativas.
Manet, diferentemente de outros artistas, nunca precisou de dinheiro para viver, seria uma espécie de “flaneur”. O pai não deseja que o primogênito fosse artista, insistiu na carreira de magistrado, mas Manet foi cooptado pela arte desde sempre.
Em 1846, Charles Baudelaire incitou os artistas a representarem “o heroísmo da vida moderna”, alguns críticos dizem que Manet deu corpo às palavras do poeta (que foi seu contemporâneo e amigo). Ao que parece, a arte para Manet deveria discutir a “vida moderna”, não apenas expressar a pureza dos mitos. O mundo mundano, os avanços tecnológicos assustando e encantando, numa velocidade cada vez maior, Manet intentava mostrar esse transformar de alguma maneira. A arte deveria então revelar a “verdade”, deveria ser o espelho refletindo o mundo, mostrando homens e mulheres como eram de fato: o mendigo, o bêbado, a balconista, a dançarina, a prostituta.
Manet alistou-se na Marinha Mercante depois de ser reprovado no colégio naval, passou então 6 meses no Brasil em treinamento. Somente em 1849, os pais aceitaram sua opção pela pintura e ele começou a estudar com Thomas Couture em 1850. O pintor visitou a Itália em 53 e 57, Alemanha e Holanda em 56. Ele conheceu o Realismo e ficou encantado por Hals, Velásques e Goya. Na pintura clássica, Ticiano e Tintoretto foram grandes influências.
Ele não quis estudar na Escola de Belas Artes, mas queria ser aceito por ela. Couture era tradicional, mas pintava clássicos com um toque moderno. A pintura de Manet tem traços realistas e também influência da arte espanhola. Diz-se que foi influenciado e influenciou os Impressionistas, com um traço ora demarcado, ora moldado pela luz.
Em 1863, Manet participou do Salão dos Recusados, o que o tornou famoso entre os não conformistas. Sem quadro Déjeuner sur L´herbe fora recusado pelo júri do Salão da Academia Real. Embora ele considerasse sua arte herdeira da tradição dos grandes mestres, sua abordagem era repensar temas estabelecidos em termos modernos, pessoas reais no mundo, com olhos “vendo” e não divagando. Dizem que sua obsessão era pintar o que via, o que surgia diante de seus olhos. Mas o que é isso? O que é isso que surge diante dos olhos e pode ser representado perfeitamente? De qualquer forma, sua retratação do mundo real que ele via não foi aceita e ele lutou por aceitação por toda a vida.
Uma diferença bastante importante entre Manet e os impressionistas: o pintor amava o preto. Ele colocava os pigmentos lado a lado, não misturando os tons. Algumas de suas pinturas mostravam uma intensidade do contraste e sentimento das necessidades do artista. Outras davam uma sensação de isolamento e da contradição que ele provavelmente guardava: artista revolucionário de forma inconsciente e não intencional preso na pele de um burguês.
No meu amado quadro, “The Old Musician”, de 1863, Manet pintou pobres urbanos; Paris estava passando pela reforma do prefeito Haussmann e muitos dos cortiços e casas “suspeitas” do centro estavam sendo demolidos, inclusive o lugar onde Manet tinha seu atelier. Sem ser anedótico ou sentimental, o pintor os estudou com a neutralidade de um observador participante, e a distinta ambigüidade moderna e o desprendimento do velho músico são características do seu trabalho.
Don Gray reportou a citação de Émile Zola sobre Manet, inclusive Zola perdeu sua posição de critico por defendê-la: “um lugar no Louvre está reservado para Manet. É impossível, impossível eu digo, que ele não tenha um dia o seu triunfo”.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Olho do Furacão - escrito meses antes do término da formação

Mônica Valéria S. de Queiroz Vargas

Resumo O texto relata a experiência de ser sujeito de um ateliê de arteterapia antes mesmo de ser um facilitador. Passar por esse processo faz muita diferença. Pois só assim podemos ter idéia dos benefícios, das dificuldades e das descobertas que essa vivência pode nos trazer. É sobre esse caminho que autora faz um sincero testemunho para os que vivem a arte ou que pretendem seguir esse caminho...

Abstract The article describes the experience of being in a art therapy atelier even before the practice of being a facilitator. Living this process makes a lot of difference, because it may gives us the idea of the benefits, difficulties and also the discoveries that this experience may bring to our lives. It is regarding this choice that the author makes a sincere testimony for those who live the art or for those who intend to follow this path…

Pensei em escrever um artigo sobre a história da arteterapia, começando com os intentos de Margaret Naumburg e Florence Cane, depois passar por todas os percursos da arteterapia no Brasil, desde os anos 20. Mas tendo aprendido que a arteterapia é arte em movimento, é um aprendizado do fazer artístico na vida, decido escrever sobre uma trajetória pessoal em arteterapia, a minha, que ainda está longe de findar, posto que ainda sou aprendiz. Este intento talvez esteja buscando diálogo, buscando que outros também o façam, porque tenho o sentimento de que o trocar é essencial no nosso aprender. Todos nós já nos encontramos em “esquinas” existenciais, esquinas estas que são fundamentais para a construção de nós mesmos.

Estava eu numa dessas esquinas quando tomei conhecimento do aspecto terapêutico do fazer artístico. Isso aconteceu no centro de desenvolvimento humano Artemísia (da antroposofia), onde trabalham com terapia artística. Já tinha lido em algum lugar sobre arteterapia e terapia artística, mas nunca tinha “vivido a experiência”, e não há como sentir seu “formidável poder de penetrar o sangue” (parafraseando Carlos Drummond de Andrade), se não nos damos aos fios do tear, às pinceladas da aquarela, às formas de argila... Sob efeito desta experiência, um novo mundo se abriu, com toda complexidade e maleabilidade de um momento de criação. Percebi desde o primeiro passar de dedos pelas urdiduras, que aquele fazer criativo sempre estivera esperando por mim, eu apenas desconhecia que havia um saber que me possibilitaria ser criador e criatura.

Visitei a escola Pomar, me encantei com suas paredes coloridas e com o conhecimento de sua fundadora, mas as incompatibilidades de horário me levaram a buscar, e encontrar, nova e maravilhosa alternativa – Lígia Diniz – nossa mestra, que tem sido um belo presente. E, no momento em que comecei as aulas, se fez o dilúvio, recriando a criação. Nas águas de lágrimas e nos ares de sorrisos, tenho descoberto necessidades a tanto reprimidas, falares há tanto resguardados e possibilidades de um fazer artístico expressivo que cura. Através de acolhimentos percebi esse efeito curativo das mais diversas feridas, do corpo, da mente e da alma. Nas danças dos corpos visíveis e invisíveis, tenho percebido o ondular de mim mesma. Nas discussões mais teóricas, nos contos de fadas, nos mitos, no moldar da argila, no organizar da colagem, tenho pensado e repensado na importância do afeto nas relações, enquanto professora, terapeuta, colega, amiga, mãe e mulher.

A afetividade, segundo dicionário etimológico, seria a “inclinação para amar” que vem do latim affectare. Entre outros significados, escolho este, para ilustrar meus pensamentos, porque sempre acreditei, ingenuamente talvez, como Lewis Carroll, que “é o amor que faz o mundo girar...” Um grupo de arteterapia é também um grupo na qual a arte e a arte de ser se constroem, entre mortes e nascimentos, colegas que se foram para outras escolhas, para longe e para além, o grupo se consolidou, e estar com minhas companheiras e companheiro é sempre uma oportunidade de rever-me (e, às vezes, sabemos como “se ver” dói), é também um momento de prazer e alegria.

A arteterapia tem se mostrado um possibilitar e uma possibilidade constante em minha vida. Uma busca, um fazer as pazes, um cantar maravilhoso, um gritar e também um silenciar, sempre envoltos em aprendizados, não distantes ou verborrágicos, mas possíveis e táteis, embora nem sempre visíveis. Quem não sonhava, passa a sonhar; Quem não ousava, passa a ousar; quem só ousava, passa a contemplar. Numa formação em arteterapia não há como se abster do fazer, do experenciar. E nessa forja, nesse transformar, nessa busca por conhecimento, cabem muitas coisas, pessoais e sociais. Passamos a olhar o brincar e o praticar de forma completamente diferenciada e inteiramente singular.

A arte é uma oportunidade do homem/mulher encontrar-se porque nos solicita inteireza, e a inteireza pode ser igualmente maravilhosa e tenebrosa, e cada qual tem seu tempo e sua hora para encarar o olho do furacão que somos.


Mãe Borboleta IMPRESSÕES DA ARTE

Mãe Borboleta – 23.9.03
Eu sou uma mãe alada
Eu alimento, acolho e sei receber
Sou feita da terra fresca e surjo do mar
Das vagas das profundezas
Tenho uma coroa luminosa (Iya mi tala´adê)
Pequena e poderosa
Sei onde estou e para onde vou
Meu destino é a criação
Transformar é meu verbo
O amor é meu guia
Eu manipulo os poderes
E manifesto o meu ser

SEMENTES

Sobre Arteterapia

O uso da arte em terapias começa no Brasil por volta dos anos 20, mas só nos anos 70 e 80 que grupos de estudos, cursos e formações em arteterapia começaram a surgir e se desenvolver. Os dois primeiros pólos de arteterapia no Brasil foram iniciados por Ângela Philippini e Selma Ciornai. Ângela foi a mestra de minha mestra, Lígia Diniz. Além de Arteterapeuta, Lígia é formada em teatro, psicologia, é analista junguiana e facilitadora de biodança.
A arteterapia é uma prática terapêutica que utiliza atividades expressivas (pintura, desenho, colagem, escultura, conto de fadas, expressões cênicas, escrita criativa etc) e pode auxiliar na clínica, na saúde, na educação (em escolas e outros ambientes educacionais) e em empresas.

Certas vezes, me dizem:
- mas eu não sei desenhar nem casinha com coqueiro...

O que importa para nós arteterapeutas é a expressão criativa, a obra se torna um intermediário, uma possibilidade não verbal de comunicação, expressando o que vai no nosso íntimo e, por vezes, no nosso inconsciente.