terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Manet


FORMAÇÃO EM ARTETERAPIA – FACILITADORA: LÍGIA DINIZ

APRESENTAÇÃO DO ARTISTA
- ÉDOUARD MANET (23/01/1832-30/04/1883)
É importante explicar a escolha por Manet. Van Gogh foi o primeiro pintor a me arrebatar quando eu tinha 10 anos aproximadamente, com sua noite estrelada. Entretanto, foi com o quadro “O velho músico” de Manet que experimentei algo difícil de exprimir em palavras: aquela sensação de olhar um quadro, mergulhar nele e o tempo parar. Significados não são suficientes para expressar sensações... este quadro me causou uma sensação de pertencimento bastante contundente. Eu o vi num museu em Houston acho eu, só sei que sentei na frente dele e fiquei por algum tempo ali, olhando os olhos do cigano. Em sua homenagem, conheçamos Manet.
Harris considera que a abordagem de Manet era espontânea. Seu estilho direto e o uso de cores fortes teria ofendido os princípios artísticos de tempo. Manet fez nus não clássicos e isso o marcou pelo resto da vida. Entretanto é importante ressaltar que a inspiração de Manet talvez viesse do paradoxo em que vivia: não conseguia dizer não ao seu espírito criativo e expressava esse traço de forma bastante sofisticada, ao mesmo tempo, seu corpo, acostumado ao comportamento social da alta classe média, jamais se permitiu adentrar completamente os movimentos renovadores de seu momento. Manet não obteve reconhecimento do público que valorizava os pares e o consideravam obscuro. A primeira mostra dos Impressionistas, que foram bastante inspirados no traço de Manet, realizou-se seu sua presença. Manet ganhou uma medalha de segundo lugar no salão depois de algumas tentativas.
Manet, diferentemente de outros artistas, nunca precisou de dinheiro para viver, seria uma espécie de “flaneur”. O pai não deseja que o primogênito fosse artista, insistiu na carreira de magistrado, mas Manet foi cooptado pela arte desde sempre.
Em 1846, Charles Baudelaire incitou os artistas a representarem “o heroísmo da vida moderna”, alguns críticos dizem que Manet deu corpo às palavras do poeta (que foi seu contemporâneo e amigo). Ao que parece, a arte para Manet deveria discutir a “vida moderna”, não apenas expressar a pureza dos mitos. O mundo mundano, os avanços tecnológicos assustando e encantando, numa velocidade cada vez maior, Manet intentava mostrar esse transformar de alguma maneira. A arte deveria então revelar a “verdade”, deveria ser o espelho refletindo o mundo, mostrando homens e mulheres como eram de fato: o mendigo, o bêbado, a balconista, a dançarina, a prostituta.
Manet alistou-se na Marinha Mercante depois de ser reprovado no colégio naval, passou então 6 meses no Brasil em treinamento. Somente em 1849, os pais aceitaram sua opção pela pintura e ele começou a estudar com Thomas Couture em 1850. O pintor visitou a Itália em 53 e 57, Alemanha e Holanda em 56. Ele conheceu o Realismo e ficou encantado por Hals, Velásques e Goya. Na pintura clássica, Ticiano e Tintoretto foram grandes influências.
Ele não quis estudar na Escola de Belas Artes, mas queria ser aceito por ela. Couture era tradicional, mas pintava clássicos com um toque moderno. A pintura de Manet tem traços realistas e também influência da arte espanhola. Diz-se que foi influenciado e influenciou os Impressionistas, com um traço ora demarcado, ora moldado pela luz.
Em 1863, Manet participou do Salão dos Recusados, o que o tornou famoso entre os não conformistas. Sem quadro Déjeuner sur L´herbe fora recusado pelo júri do Salão da Academia Real. Embora ele considerasse sua arte herdeira da tradição dos grandes mestres, sua abordagem era repensar temas estabelecidos em termos modernos, pessoas reais no mundo, com olhos “vendo” e não divagando. Dizem que sua obsessão era pintar o que via, o que surgia diante de seus olhos. Mas o que é isso? O que é isso que surge diante dos olhos e pode ser representado perfeitamente? De qualquer forma, sua retratação do mundo real que ele via não foi aceita e ele lutou por aceitação por toda a vida.
Uma diferença bastante importante entre Manet e os impressionistas: o pintor amava o preto. Ele colocava os pigmentos lado a lado, não misturando os tons. Algumas de suas pinturas mostravam uma intensidade do contraste e sentimento das necessidades do artista. Outras davam uma sensação de isolamento e da contradição que ele provavelmente guardava: artista revolucionário de forma inconsciente e não intencional preso na pele de um burguês.
No meu amado quadro, “The Old Musician”, de 1863, Manet pintou pobres urbanos; Paris estava passando pela reforma do prefeito Haussmann e muitos dos cortiços e casas “suspeitas” do centro estavam sendo demolidos, inclusive o lugar onde Manet tinha seu atelier. Sem ser anedótico ou sentimental, o pintor os estudou com a neutralidade de um observador participante, e a distinta ambigüidade moderna e o desprendimento do velho músico são características do seu trabalho.
Don Gray reportou a citação de Émile Zola sobre Manet, inclusive Zola perdeu sua posição de critico por defendê-la: “um lugar no Louvre está reservado para Manet. É impossível, impossível eu digo, que ele não tenha um dia o seu triunfo”.

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